Sunday, September 10, 2006

Lá vem Zé

Lá vem Zé, tombando prum lado, tombando pro outro. Caindo pra aqui, caindo pra ali.
Lá vem Zé, perdeu o caminho, seu pé tem espinho, perdeu a cabeça, nem é João Batista.
Lá vem Zé, ainda é cedo, luz calma nas costas, respira cachaça.
Lá vem Zé, chutando a lata, o dedo cortado, bermuda encardida.
Lá vem Zé, cabelo assanhado, soluço e tropeço, conversa sozinho.
Lá vem Zé, artista da vida, coloca no bolso o mundo e os sonhos.
Zé pende prum lado, Zé pendo pro outro.
Lá vem Zé, subindo a ladeira, abraça o poste, a rua tá turva, lá vem Gabriela.
Lá vem Zé, sem camisa, sem calça, sem chinelo, sem alça, só soluço, topada.
Lá vem Zé, esqueceu da mulher, o dia tá triste, vamo tomá uma!
Lá vem Zé, não sobe a ladeira, namora com a mosca, levanta o dedo.
Lá vem Zé, faz um discurso, olha pro alto, soluça, se encurva, tropeça.
Lá vem Zé, parece uma cobra, pra lá e pra cá, e ri pras paredes, entende de tudo.
Lá vem Zé, a mão calejada, uma vida sofrida, hoje tem feijão, café acabou.
Lá vem Zé, arroto, tropeço, soluço.

O mundo girou.

Formigas vermelhas.

Sóis das galáxias (onde há felicidade...)

Na gota da água, no sóis das galáxias, no vento da praça, na pedra do rio.
Conversa que roda, na lua cinzenta, na areia da duna, nos olhos de Lia.
Eu lia um livro de prédios e nuvens chovendo aqui dentro. Um vento.
Na noite calada, na chuva mendiga, no escuro de céu... firmamento.

A tinta vermelha, o branco das aves, o verde dos olhos, cantiga.
O pé de menina, caminhos sem volta, andar que não pisa, artista.
O sol da janela que bate lá dentro, então eu me lembro que ainda há dia.
A noite que vaga no beco, na rua, estrelas que dormem, não há melodia.

A mão que desenha, a boca pequena, papel recortado, cinema.
A mão que umedece, cabelo castanho, o ar que suspira, poema.
A dor que não dói, o canto da alma, a voz que penetra, silêncio.
A rua de pedra, o peixe da praia, café na varanda, entendo.
O sonho liberto, o canto do mundo, criança que pula, candura.