Thursday, June 11, 2009

no colo

Tremeu ao tocar a maçaneta. As lágrimas haviam feito caminho ao longo do corredor. Ao abrir a porta, a claridade que vinha da janela de frente lhe confundiu a vista. Desviou o olhar para as outras paredes, e agora as imagens dos quadros se desprendiam e formavam vultos a dançar no meio da sala. Figuras de homens sóbrios, paisagens bucólicas, pinturas incompreensíveis a vagar sem rumo diante da menina. Deslizou o dedo no canto dos olhos e correu para o colo da tia. Era tia Lena, uma senhora gorda e afável. O rosto preservava sempre uma expressão de riso e nos seus braços, Juliana encontrava toda a candura e compreensão do mundo. Não importava quantos nem quais tipos de erro a menina tivesse cometido. Nos braços de tia Lena, o mundo se tornava acolhedor. A menina se esparramou em seu colo e agora chorava mais. Tia Lena não lhe fez perguntas. Passou o dedo na testa da menina desviando os cabelos que lhe caíam sobre os olhos. A menina apertou os olhos e abraçou mais forte a tia. Juliana era uma menina magra e branca, branca como se nunca tivesse conhecido o sol. Gostava de vestir roupas coloridas e nesse dia, vestia uma blusa laranja com o desenho de um sol gigante. O sol, naquela tarde, não estava lá fora, para além da janela, e o que estava dentro, era respingado pelas lágrimas da menina. A tia ajeitou a menina no braço, enxugou-lhe o rosto e perguntou o que havia acontecido. A menina começou a soluçar e não respondeu. Fez apenas uma cara de dor. O colo estava quente e macio. Na mente de Juliana, repetições da cena. Palavras duras, dedos apontados. Amor banhado a dor. Os minutos foram passando. O tempo e o colo traziam o consolo. O colo de tia Lena era o melhor lugar no mundo para se estar naquele momento de sol banhado a lágrimas. Não haveria no mundo lugar melhor.