Thursday, November 30, 2006

Paredes surdas

Neste instante prefiro a mudez. A incomunicabilidade dos planetas que congelam sozinhos no infinito das galáxias que explodem. Isto não me interessa. Só a brisa que sopra feito sopro de mãe a franja reta asiática da menina que corre no parque. Quero apenas ser ouvidos surdos de paredes brancas de quartos vazios, mas desejo ouvir dedos hábeis delicadamente no piano a criar sons que deixem nossos travesseiros fofos para um sono profundo de uma noite de estrelas. O discurso não me interessa. Quero apenas a melodia de dedilhadas numa harpa, equilibrando as pontas dos dedos dos pés calejados de uma bailarina. A história não me interessa. Quero ouvir o sonho real que brotou da doce vida das crianças. O futuro, agora não. Só um presente que seja mais que todas as estórias de todos os tempos e de todas as épocas. Não quero a promessa. Só a flor que desabrocha quieta e perfeita no jardim do quintal de minha avó. Não quero esta glória. Só o vento batendo em meu rosto na montanha que desço correndo ainda criança. Não quero caminhos. Só passos soltos e leves, vagabundos, em areia fofa de praia com lua.

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