Sunday, May 27, 2007

Manhã de sol ocluso

Aqui prostrado, perante um sol que decidiu não nascer esta manhã. Nuvens escuras que carregam ventos gélidos e cortam a alma, deixando-a mais prostrada, quase em migalhas. Porque tuas mãos, singelo sorriso de lábios tênues que rasgam delicadamente teu rosto e olhos translúcidos de infindáveis pensamentos, não se transportam a mim, nesta manhã de sol ocluso. Fico, então, a esperar que um vendaval nascido de detrás das montanhas, veloz e assaltante, possa te roubar onde quer que estejas e te trazer a mim, somente a mim. Mas não ouço tua voz, nem fios de teus cabelos encontro entre meus dedos, nem dançando ao vento, porque a distância do que é concreto ignora a confusão de nossos sentimentos. Quando, então, já existe cheiro e deslizar de dedos em pele macia, mãos quentes, algum suspiro. Quando não há mais sol que se iguale em fulgor e esplendor ao tremeluzir de teus olhos, como diamantes, banhados a respingos de tudo o que sonhas. Quando o dia pode nascer e morrer, e renascer durante duzentos milhões de anos, mas meus passos continuam juntos aos teus e posso contemplar o teu mesmo semblante. Mas quando os pensamentos se perdem no caminho e são levados por tempestades a lugares onde não podem voar, fico imaginando com que asas poderei te alcançar. Meu corpo porém já dói, pés feridos em pedregulhos, e o sol ocluso não me traz sequer memória de algum feixe de luz.

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