Sunday, May 27, 2007

Nuvens amarelas

Um instante de palidez, mãos e dedos que se atiram ao vazio de costas que se viram, sem sobras de alma e sombras que transfigurem tua presença. Ponta de dedos incansáveis que não alcançam, e um sopro de vento covarde que levanta fios de teus cabelos aos meus olhos e rabiscam minha face. Passos sem volta, caminho infinito que carrega teus pés a lugares tão distantes que minha imaginação jamais alcançará. Não tem sentido, porque todo o universo agora gira na rotação de um furação e mistura e explode todos os planetas e estrelas de meu céu que acabou de cair, nesse meu instante de palidez, e não tem mais lei que equilibre e recupere, sequer, a órbita de minha via láctea e me faça respirar ar livre de fogo. Respiração, um fôlego assustado, pulmões quase sem ar e nuvens amarelas paralisadas na gravura desbotada de um quadro qualquer. Lentidão, porque não quero perder agora nem as lembranças, e as puxo vorazmente com a memória, esforço inútil. Ah... se pensamentos tivessem mãos, então eu puxaria todas as lembranças perfeitas de meus momentos junto a ti, e as guardaria num baú, todas trancadas, para revivê-las a cada manhã de céu cinzento. Se é o que me resta, retratos de nossas vidas espalhados dento de mim, então juro que meu acordar será sempre um sonho, onde só as lembranças serão reais.

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