Thursday, August 31, 2006

Tv no divã

Um jovem senhor chegou-me um dia na loja e perguntou-me enfaticamente se havia tv de 20” histérica. Nesse exato momento o espírito de Freud invadiu-me os pensamentos e fui conduzido a alguns meses atrás, quando me encontrava junto a uns amigos discutindo o pai da psicanálise e a histeria. Freud, segundo me informaram, foi quem havia abordado de forma mais profunda a questão e a conceituado como a entendemos hoje. Em uma de suas teorias, ele associava histeria a traumas ou desejos sexuais reprimidos. Uma mulher que não realizasse durante muito tempo seus desejos sexuais poderia apresentar sintomas fortes de histeria. Tudo isso em minha mente (sexo, histeria, Freud, traumas, grito) naquele instante em que o homem olhando atentamente pra mim, com uma postura totalmente séria, esperava por uma resposta simples como: “Sim, senhor, nós temos tv histérica”. De alguma forma haveria sentido em uma tv ser histérica caso eu a aumentasse em seu último volume e quem sabe ele não estivesse precisando realmente disso... Estéreo e histérica passaram a ser quase sinônimos em minha cabeça e qualquer dissociação verbal que eu fizesse poderia conotar crueldade, tanto pela semelhança já provada de sentidos como pelo constrangimento a que o homem seria submetido ao ser indiretamente chamado de ignorante.
Mas arrisquei e disse também enfaticamente que tínhamos tvs estéreo. A primeira consequência foi um ar de conflito intelectual em seu semblante. A segunda: não vendi. Aquela palavra havia soado estranha aos seus ouvidos, pelo menos com relação a tvs. Novidade. Ele agora voltaria pra casa na dúvida entre qual de nós era o burro da estória: o que chamara de “estéril” uma tv que naturalmente não poderia procriar, ou o que olhava para uma mono pensando ser histérica...

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